Breast SPS

A mais-valia da informação no tratamento dos doentes

Uma informação de qualidade é essencial para uma prática assistencial também ela de qualidade e, por conseguinte, uma mais-valia para os doentes e respetivos resultados clínicos. Este é o pressuposto em que assenta o Breast SPS, registo clínico de cancro da mama que está a ser desenvolvido sob a égide da Sociedade Portuguesa de Senologia (SPS).

Os dados são indispensáveis para um correto conhecimento da realidade: nas palavras do Dr. Paulo Cortes, oncologista no Hospital Lusíadas Lisboa, membro da direção da SPS e gestor do projeto, importa reunir informação cuidada sobre as diversas fases da abordagem ao cancro da mama: o que se diagnostica, como se diagnostica, o que se trata, como se trata, quais são os resultados das intervenções clínicas. “Estes dados são fundamentais para podermos refletir, analisar, planear, investigar, olhar para o futuro. São um motor de desenvolvimento, de mudança”, foi a mensagem que deixou no último congresso da SPS.

Foi esta consciência que fez germinar este projeto. Mas, também a convicção de que, embora sendo um País pequeno, Portugal tem uma realidade assistencial muito boa em matéria de cancro da mama. E de que, neste cenário seria relevante que as unidades de cancro da mama falassem a “uma só voz”, trabalhando em conjunto, com as mesmas ferramentas.

Os primeiros passos foram pensados em 2017 e concretizados em 2018, com a assinatura de um contrato de entendimento com a Virtual Care, uma spin off da Universidade do Porto. Nasceu assim um projeto de desenvolvimento de um registo clínico de cancro da mama já existente, que permite a integração com vários sistemas de informação e com várias aplicações. Além disso, garante acessibilidade, uma vez que pode ser acedido a partir de qualquer computador da rede do hospital. Na prática, qualquer elemento da equipa multidisciplinar envolvida no tratamento do cancro da mama pode funcionar com esta ferramenta.

E o que pode fazer?

Pode registar sintomas, morfologia, local da lesão, dados dos meios complementares de diagnóstico e de terapêutica, bem como os resultados das consultas de grupo. Foi concebida para estimular o correto preenchimento dos dados relativos a variáveis fundamentais na prática clínica diária, como a anatomia patológica, a biologia molecular, o estadiamento da doença, os tratamentos efetuados. E permite ainda atender aos prazos adequados e às recomendações dos tratamentos emanadas das sociedades científicas. Bem como avaliar a efetividade terapêutica e determinar os dados de sobrevivência.

Mais do que uma simples base de dados, com esta plataforma e o registo uniforme que lhe é inerente será possível fazer a gestão do percurso do doente desde o diagnóstico até à decisão de tratamento e acompanhamento, sempre em ambiente multidisciplinar, e garantindo o rigor, a exaustividade e a confidencialidade das informações.

A ambição é abranger 20 unidades de mama a nível nacional, de forma faseada. Numa fase inicial, o sistema é instalado nas unidades, com um servidor que fica no hospital, o que significa que os dados ficam no hospital. Desta forma, possibilita-se uma gestão ativa e um conhecimento mais preciso do acompanhamento do doente em cada unidade. Numa segunda fase, e com o projeto a correr em mais centros e, consequentemente, com mais dados inseridos, o objetivo é a agregação de dados e a partilha de informação, nomeadamente com o Registo Oncológico Nacional, mas também, e a posteriori, com redes de dados europeias. Aliás, a nível europeu, o Breast SPS oferece a mais-valia de poder exportar os indicadores necessários para a certificação das unidades de mama nacionais, quer no EUSOMA, quer no ECBCI – a iniciativa da Comissão Europeia sobre o cancro da mama.

No que toca às unidades a abranger por esta ferramenta eletrónica, foram já atribuídas cinco licenças, havendo outras quatro para atribuir até final do ano. Para 2022, estão previstas mais cinco e, desejavelmente, no primeiro semestre de 2023 serão atribuídas as últimas.

Os hospitais Lusíadas Lisboa, de Santarém, de Évora, de Braga e o Instituto Português de Oncologia de Coimbra são as unidades já admitidas. Foi, entretanto, aceite a adesão do Centro Hospitalar do Algarve, do Hospital de Setúbal, Centro Hospitalar Lisboa Ocidental e do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra esperando-se que, até final do ano, mais unidades formalizem a sua candidatura.

Para dar novo fôlego ao projeto, foi criado recentemente um Conselho Científico e de Gestão, incumbido de gerir a aplicação e a integração com todos os centros, mas também de olhar para o futuro. É um conselho para o qual concorrem diversas especialidades, de modo a espelhar a multidisciplinaridade das equipas que tratam o cancro da mama. O propósito é contribuir para que as unidades de mama falem a uma só voz, em prol dos doentes.

A Comissão Europeia tem também uma iniciativa, nesta área, a Initiative on Breast Cancer (ECIBC), à qual pode aceder, AQUI.